Angola tem uma produção anual estimada em mais de 11 milhões de toneladas de mandioca, sendo hoje o terceiro maior produtor de África, depois da Nigéria e o Gana, e quer apostar na sua transformação em amido. Quer? Não basta querer. É preciso fazer. Em Outubro de 2019 o secretário de Estado da Economia, Sérgio Santos, dizia que Angola era o segundo maior produtor da mandioca em África…
Uma nota do Ministério da Indústria e Comércio referiu que o executivo angolano está apostado em criar programas de aproveitamento e agregação de valor à produção de mandioca, através da Direcção Nacional de Desenvolvimento do Comércio Rural.
A estratégia visa criar programas específicos de aproveitamento da mandioca, através da promoção da produção desta raiz, bem como na criação de incentivos à compra, transformação e consumo dos vários subprodutos derivados da mandioca.
Entre o top 15 mundial de produtores da mandioca, o executivo angolano vê nessa condição, “uma excelente oportunidade para tirar vantagens dessa realidade”, apontou a nota, salientando que o Brasil é o campeão na transformação da mandioca, realidade que já chegou a Moçambique e “aos poucos” vai chegando a Angola.
Em Angola, além do aproveitamento da mandioca para a produção da fuba de bombó, uso mais comum entre os angolanos, o Governo vai incentivar, este ano, a sua transformação em amido, promovendo o surgimento de pequena e média indústria no meio rural, para a sua consequente exportação em grande escala.
A mandioca, além de ser um alimento nutritivo e versátil, pode ser transformada em amido, que é também usado na indústria alimentar, sendo a China o principal importador mundial.
O maior produtor, a Nigéria, está actualmente a liderar um projecto de uso do amido de mandioca para o fabrico de fibra biodegradável em substituição do plástico nas embalagens, o que constitui também um desafio para Angola.
O assunto foi analisado hoje numa reunião do conselho de direcção do Ministério da Indústria e Comércio, quando avaliava o ponto de situação sobre o Programa Integrado de Desenvolvimento do Comércio Rural.
Com governos que semearam a incompetência
No dia 29 de Novembro de 2017 o Governo de João Lourenço passou um atestado de criminosa incompetência ao Governo de Eduardo dos Santos (do qual fez, aliás, parte como ministro) ao desafiar as autoridades e empresários japoneses a assumirem as unidades de produção de arroz que estavam paralisadas em Angola, de forma a aumentar o actual volume produtivo, inferior a 30.000 toneladas anuais.
O repto foi lançado, em Luanda, pelo secretário de Estado da Agricultura e Pecuária, Carlos Alberto Jaime Pinto, durante a quarta reunião do comité de coordenação conjunta do projecto de desenvolvimento de cultivo de Arroz em Angola, que conta com o financiamento da Agência de Cooperação Internacional do Japão.
Segundo o governante angolano, o arroz era o quarto produto da cesta básica mais procurado no país, depois do milho, da mandioca e do feijão, com necessidades anuais de 400.000 toneladas, em contraponto – repita-se – com a “incipiente” produção interna, que foi de 24.576 toneladas na campanha agrícola de 2015/2016, entre empresas agrícolas familiares (12.191 toneladas) e agricultura empresarial (12.385 toneladas).
O resultado é um consumo dependente das importações, que Angola sistematicamente diz que quer inverter, introduzindo, com o apoio em curso do Japão, as “melhores variedades” de arroz em cultivo.
“Se conseguirmos atingir sementes de alta qualidade, significa que teremos de produzir cerca de 300.000 hectares de arroz, para cobrir as necessidades internas do país”, apontou Carlos Alberto Jaime Pinto, que esperava a colaboração japonesa na expansão deste cultivo.
Nesse sentido, o Governo angolano comunicou nesse dia a autorização da extensão por mais um ano dos ensaios com diferentes variedades de sementes de arroz que decorrem, ao abrigo da colaboração com o Japão, nas províncias do Huambo e do Bié.
“Que consigamos passar da experimentação a uma acção mais expandida, de produção de arroz em Angola”, enfatizou o governante.
Os governos de Angola e do Japão acordaram em 2013 um programa de assistência técnica japonesa à produção de arroz em território angolano, sendo conhecidas as condições naturais favoráveis para esse cultivo, nomeadamente, nas províncias da Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico, Malanje, Bié e Uíge.
Contudo, o abandono ou reduzidos níveis de produção em várias áreas do país dificultam um volume de cultivo que seja “rentável e significativo”, com o secretário de Estado da Agricultura e Pecuária a apontar como exemplo a Fazenda Longa, na província do Cuando Cubango, no sul do país, com 2.000 hectares, mas então paralisada.
Resultou de um projecto conjunto com empresas chinesas, que chegou a produzir, na campanha agrícola de 2013/2014, mais de 4.000 toneladas de arroz, mas a crise financeira e cambial dificultou a aquisição de insumos e travou a produção, que passaria na era João Lourenço a ser apoiada pelo Fundo Soberano de Angola.
“Mas gostaríamos de lançar um repto que, todas aquelas unidades de produção que neste momento não se encontram em grande produção poderíamos pedir a cooperação do Japão, para que pudéssemos ocupar algumas dessas unidades com o objectivo de começar a fazer um programa de maior intensidade da produção de arroz”, apelou Carlos Alberto Jaime Pinto.
Juntamente com o financiamento e apoio técnico japonês, o projecto de desenvolvimento de cultivo de arroz em Angola envolve o Ministério da Agricultura e o Instituto de Desenvolvimento Agrário angolano.
Sementeiras de João Lourenço
No dia 11 de Outubro de 2018 iniciou-se um novo ano agrícola que foi marcado por um discurso do Presidente da República, João Lourenço, no município do Cachiungo, província do Huambo, perante milhares de pessoas.
Nessa mesma altura, no Cuanza Norte os agricultores manifestaram o seu apoio ao Presidente, lembrando que não tinham catanas, enxadas, limas, ancinhos, machados, sachos etc.. Também os camponeses do município da Cameia, província do Moxico, estavam solidários mas diziam que iam deixar de produzir arroz por falta de máquinas de descasque do cereal.
Acrescentaram que a decisão se devia ao facto de as 23 toneladas produzidas na época anterior continuavam nos armazéns do município por falta de máquinas…
João Lourenço exortou o sector agrícola a colocar o país a “produzir a comida de que precisa”, estimulando a produção em grande escala, para acabar com a importação de alimentos e produtos agrícolas. Por outras palavras, realçou o fracasso da anterior, e da anterior, e da anterior, governação do MPLA.
Como muito bem sabe João Lourenço, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.
Angola, em 1974, era o terceiro maior produtor mundial de café; o quarto maior produtor mundial de algodão; o primeiro exportador africano de carne bovina; o segundo exportador africano de sisal e o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe.
Angola, em 1974, por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África; o CFB – Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo-RDC; o CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue; o CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela.
Angola, em 1974, tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME; pelo menos três fábricas de salchicharia; quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes; pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas; pelo menos duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas; pelo menos seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito.
Angola, em 1974, tinha a fábrica de pneus da Mabor; três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande, sendo que, como estas fábricas depois começaram a criar ferrugem por culpa dos malandros dos colonos que se foram embora, os amigos cubanos do MPLA lá as empacotaram e as levaram para a terrinha deles.
Angola, em 1974, era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco…
Tinha ainda a linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum, e…, e…
Além disso, reconheça-se, tinha uma vantagem decisiva: Não era governada pelo MPLA…